A história da MPB, a Música Popular Brasileira, passa por uma miscigenação que é uma das principais características da nossa cultura, a diversidade cultural (multicultural).
Para entendermos a nossa música, teremos que ir na raiz da nossa colonização, na cultura religiosa que nos foi imposta, nas raízes culturais que já estavam por aqui e no africano que veio escravizado ao Brasil.
Povos:
Silvícolas (Ìndios): Língua mãe Tupy. Na carta de Pero Vaz de Caminha, relata a primeira Missa (onde através do Canto gregoriano e da música sacra conseguiram um primeiro contato positivo com os ditos selvagens da região, onde as linguagens artísticas foram a ponte entre os povos).
Um dos primeiros historiadores, Jean de Lery - é autor do primeiro documento da notação musical dos silvícolas e a descrição das cerimônias ("...muita dança, muita música. A expressão do corpo e adoração aos elementos naturais são características dos selvagens...")
A música era ritualística (Música para Morte, Nascimento, Guerra, Trabalho,Deuses, Natureza, ...)
Instrumentos musicais imitavam a natureza - Chocalhos, Guizos, Tambores, Flautas, Maracá, Reco-reco, Pau-de-chuva, apito, corpo humano, trombetas, buzinas, voz, preaca, trocano, flautas nasais, dentre outros.
Ao longo do tempo os silvícolas foram perdendo sua cultura em relação ao domínio dos europeus e Jesuítas.
Danças/Formas Musicais - Catira, Toré, Cateretê...)
É importante lembrar que o Brasil possuía uma estimativa de 5 a 8 milhões de índios em mais de mil tribos diferentes entre si. Colocar o índio como algo único é igual afirmar que o brasileiro é o mesmo no Sul e no Nordeste.
Os Silvícolas, denominação mais correta, viviam nas selvas e tinham a natureza como seu sustento e fonte essencial da sua cultura.
Dados do Censo IBGE de 2010 revela que existem um pouco mais de 240 povos indígenas e somam, 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país.
fonte: http://indigenas.ibge.gov.br/
Portugueses/Europeus: 1500
Língua materna - Português.
Trouxeram o sistema tonal, quadratura melódica e nossa língua materna.
Instrumentos musicais que os portugueses/europeus trouxeram: Piano (1808), Triângulo, Sanfona, Pandeiro, Instrumentos de Orquestra - Violino, Violoncelo, Violão, Cavaco, Castanholas...
Danças/Formas musicais que os europeus trouxeram: Moda, Acalanto, Foda, Fofa, Roda Infantil, Reisado, Mazurca, Rondó, Valsa, Polca, Schottisch, Zarzuelas, Sequidillas, Bolero, Chula, etc...
Africanos: 1538, primeira leva de escravos para Capitania de São Vicente (atual São Paulo). Primeiro escravos eram Sudaneses e Bantos.
Trouxeram a assimetria melódica, emprego permanente da Síncope, 6 sons inteiros, Estrofe poética seguida por refrão, presença da UMBIGADA como elemento da Dança.
Formas: Lundu, Jongo, Cantos Diversos, Capoeira, Afoxé e etc.
Instrumentos musicais: Reco-reco, Atabaque, Cuíca, Ganzá, Agogô, Berimbau, Marimba, Bongô, Chocalho, Caxixi, Xequerê, Flautas, dentre outros.
Influência decisiva no Samba com a sensualidade da Umbigada.
Jesuítas: 1549 - Campanha Jesuítca, Padre José de Anchieta foi o Jesuíta mais expressivo que catequizou silvícolas brasileiros.
Muitos assassinatos, estupros foram cometidos pelos Jesuítas. Na época, a igreja católica tinha a prática de considerar o índio e o negro como um ser vivo sem alma, por isso teriam que batizar todos os índios para que eles pudessem ir para o Céu. Isso serviu de pretexto para dominação da Terra Brasilis.
Foram responsáveis pela Aculturação Silvícola, e são considerados os primeiros professores de música ocidental no Brasil.
Primeiras formas musicais do Brasil (Gêneros musicais)
Após a chegada destes povos anteriormente mencionados, a miscigenação engrossa o caldo e o brasileiro começa a ganhar uma cultura mais própria: entre 1500 até mais ou menos 1700, os "brasileiros'' viviam cada um no seu canto: O africano na Senzala, o Português nas cidades, o índio na tribo. A partir de 1700 temos um Brasil mais unificado, onde o Caboclo (Índio + Branco), Pardo (Negro + Branco), Cafuzo (Índio + Negro), Negro, Branco e Amarelo (Oriental, em sua maioria, Japoneses) já convivem de maneira menos tensa, porém vale lembrar que ainda vivemos em épocas de escravidão e total separação dos povos a mando dos dominadores.
As principais primeiras duas formas musicais mais expressivas no Brasil ganham força no do Século XVIII:
A MODINHA e o LUNDU.
MODINHA: Recebe influência da Moda portuguesa e tem em seu maior símbolo Domingos Caldas Barbosa, que na década de 1770, foi a Portugal e apresenta para a corte uma nova Moda, mais pequena, com menos sílabas e ficou apelidada como Modinha.
É Suave, Romântica e chorosa. Geralmente dividida em duas partes e escala do modo Menor (mais triste, melancólica).
Ouça:
Oh, Lua Branca - Chiquinha Gonzaga
Casinha Pequenina - Carlos Galardo
* Note a forma de cantar que se assemelha ao canto lírico italiano. Recebeu forte influência das Valsas e óperas europeias.
Já no Século XIX, foi renovada por músicos populares e sob forma de canção ternária, recebe forte influência da Valsa assumindo o compasso de três tempos (3/4). Nesta fase, vive sua época mais expressiva.
Em resumo, sofre uma grande influência da cultura europeia.
LUNDU: é o primeiro gênero Afro Brasileiro. Veio como dança e posteriormente tornou-se canção a base de percussão, palmas e voz. É uma música alegre, festiva, onde geralmente tem em seu tema, algo engraçado, satírico, comédia.
É um estilo de música que sofre uma grande influência Africana e por essa razão é tratada com descaso pelos europeus, sendo estritamente executada em ambientes dos negros escravos, como senzalas. Não ganha fama fora do ambiente do africano.
Ouça!
Isto é Bom - Xisto Bahia
Lundus instrumentais
Lundu - Partitura editada em 1835, gravação atual
Em 1808, a Corte Portuguesa vem ao Brasil fugida de Napoleón Bonarparte. Oito anos após, chegam ao Brasil os Teatros de Revista Franceses e com eles, trazem toda a cultura europeia, inclusive a música.
As danças/formas musicais que vieram da europa foram muito importantes porém, a POLCA, VALSA, E SCHOTTISCH foram as principais. Mazurca, Habanera, Bolero dentre outras também foram importantes para o desenvolvimento da nossa música.
Com o advento dessas novas Danças, que já estavam por aqui mas ganharam uma boa força com os artistas fugidos de Napoleón, novas formas musicais importantes irão surgir, dentre elas:
MAXIXE: Primeira grande contribuição das camadas populares do Rio de Janeiro, à música brasileira. Nascido de maneira livre de se dançar os gêneros de música da época (Polca, Schottisch e mazurca), resultou do esforço dos músicos em adaptar o ritmo das músicas à tendência dos volteios e requebros do corpo com forte influência africana.
TANGO BRASILEIRO: Gênero menos popular e com trajetória mais curta. Pode ser considerada uma cariante mais bem cuidada do Maxixe. É instrumental e tem Ernesto Nazareth seu maior representante. O toque erudito, de música altamente estudada é uma das características deste gênero.
Nunca foi assimilada pela camada popular, porém foi importante por ser a primeira música brasileira que dialoga com mais ênfase com a dita música estudada - a erudita.
Danças que vieram da Europa:
Como já mencionado, muitos povos de vários países europeus aportaram no Brasil em busca de uma vida melhor. isso foi um dos fatores responsáveis pela influência europeia em nossa música. Nem só isso. Em 1816 as Missões Artísticas Francesas chegam no país com intuito de fundar a primeira escola de Arte no Brasil. Os artistas franceses, em sua maioria das Artes Visuais (Pintores, Escultores e Arquitetos) foram responsáveis por trazer uma visão mais libertária em relação a Arte, trazendo um certo status e respeito ao artista.
Dentro as danças que vieram ao Brasil destacam-se - POLCA, VALSA, MAZURCA, SCHOTTISCH, HABANERA, SEQUIDILLAS, ACALANTO, FADO, MODA, ETC...
Leitura complementar - Missão Artística Francesa no Brasil
Polca: Dentro das danças/formas musicais que vieram, a Polca é considerada a mais importantes delas para nossa MPB!
Dança/Música que se originou na região da Boêmia (atual República Tcheca) no início do sec XIX. De acordo com estudiosos, surge na cidade de Praga em 1837. Dança Saltitante de par enlaçado muito viva e alegre. Rapidamente ganhou força na Europa e, e 1843, vira febre em Paris, se tornando a música mais popular nos países da Europa.
Veja como a Polca ainda hoje, na República Tcheca faz sucesso entre os jovens.
Através das Missões Artísticas Francesas, a Polca chega ao Brasil em 1845 (alguns dizem 1846 ou 1844) e logo ganha projeção no Rio de Janeiro e logo, no Brasil inteiro. Ainda no final da década de 40, a polca vira febre e a palavra polca é muito falada no Brasil inteiro.
A Polca foi muito importante pois, mesmo não sendo um gênero tipicamente brasileiro, foi o primeiro que conseguiu atingir todas as classes sociais. A Corte, a burguesia, o povo e o escravo ouviam e dançavam a polca.
Considerada, então, o primeiro gênero musical a vencer a barreira da censura popular - todas as classes sociais se identificam com essa música.
A Polca, inicialmente, é para ser executada ao Piano porém, como este instrumento é ainda na época, algo raro, muitos grupos começam a tocar a Polca com um estilo diferente, com instrumentos diferentes. Muito comum nesta época (a partir de 1845), os grupos serem formados por Flauta, Cavaquinho e Violão (não por acaso, a primeira formação do CHORO).
Ouça uma Polca original -
Polca com dança mais Popular
Uma Polca erudita, do compositor Johanm Strauss
Ouça uma Polca já abrasileirada - Uma Polca que muitos irão dizer que é um Choro!
Ernesto Nazareth - Quebradinha
Um Grupo JAPONÊS, executando uma Polca Brasileira:
Valsa: De origem erudita europeia, era muito comum na França e Alemanha no século XVIII. Proveniente do verbo "Walzer", que na língua alemã significa deslizar ou girar, a Valsa chega ao Brasil em 1808 com a vinda da corte portuguesa para o Brasil (Corte + sua equipe = 15.000 pessoas). A Valsa é a principal música da corte e chega ao Brasil e logo é assimilada pelas classes sociais mais abastadas. Com dança no estilo "passo-passo-espera" é uma música que é assimilada em 3 tempos, e ficou popularmente conhecida como canção ternária (musicalmente iniciou com compassos 6/8 porém, foi adotado o estilo 3/4 pela popular assimilação).
Gênero muito importante para a formação musical do País que exerce forte influência sobre o Choro.
Hoje, a Valsa ainda é utiliza como música ritualística em um Casamento, Baile de formatura, Bodas, Debutante...
Johann Strauss é o maior compositor de Valsas, inclusive de várias que você conhece, ouça!
Pixinguinha, compositor chorão brasileiro, compôs umas das valsas mais representativas brasileiras, escute de Pixinguinha - Rosa
Schottisch:/
Mazurca:
Habanera:
Algumas fontes de pesquisa:
A polca no Brasil e a disseminação do piano
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